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Uma tempestade caiu em Barra do Corda no momento em que a peça Paixão de Cristo era encenada no
final da tarde desta sexta-feira 29 na praça Melo Uchoa. Álvaro Braga
relata: “A maior chuva do ano, sem a menor sombra de dúvida.” E completa: “Se o drama não teve sua encenação normal, nada perdeu em dramaticidade, pois o povo seguiu junto com Jesus, na maior alegria, a criançada banhando na chuva numa alegria contagiante.”
Leia a reportagem de Álvaro Braga
Foi
uma Paixão de Cristo diferente e não menos emocionante. O tempo nublado
e o chuvisco fino já prenunciava o que estava por vir.
Com
excelente público na praça Melo Uchôa e tudo pronto para iniciar a
peça, começa a chuva. Os cavalos dos guardas romanos se agitam. O
público se afasta para dar passagem ao ator Domingos Augusto que encarna
o papel de Jesus Cristo depois de muitos anos.
Inicia-se
a peça com o som local fazendo a trilha sonora épica. Iniciam-se as
falas. O público presente não arreda pé a arma seus guarda-chuvas. Os
atores a postos desempenham seus papéis sem se abalar com a chuva.
Súbito
a chuva engrossa. As pessoas buscam abrigo na lanchonete próxima, nas
árvores e do outro lado da rua Coronel José Nava. A encenação para.
Trovões, relâmpagos, raios cortando os céus ao longe e chuva caindo a
cântaros em Barra do Corda.
As
pessoas presentes iniciam a retirada para suas casas. Alguém toma uma
decisão acertada: encerrar a encenação da peça em sua parte falada e
partir para a caminhada até o Calvário. Creio que contou com o aval de
Domingos, pois ele galhardamente, toma a Cruz, a mesma de anos passados e
inicia a caminhada, não pelas estações do Arco do Triunfo, mas, pela
Coelho Neto, cercado pelos guardas romanos que insistiam em bater com
seus chicotes como pedia o seu papel.
Se
o drama não teve sua encenação normal, nada perdeu em dramaticidade,
pois o povo seguiu junto com Jesus, na maior alegria, a criançada
banhando na chuva numa alegria contagiante.
A
rua Coelho Neto e muitas outras do centro de Barra do Corda
transformaram-se em rios e cachoeiras. A maior chuva do ano, sem a menor
sombra de dúvida.
No
Morro do Calvário ao lado da igreja de Nossa Senhora das Dores, pequena
multidão aguarda a chegada de Cristo, ao lado de duas cruzes que já
estão fincadas e que aguardarão os dois ladrões. Centuriões romanos em
seus cavalos já fazem reconhecimento do local.
A chuva não dá trégua.
Meus dois filhos nada perdem do que acontece. A criançada no calvário está agitada, aguardando.
Quando
Domingos Augusto e todos iniciam o trajeto pela Coelho Neto, saindo da
praça Melo Uchôa, andam literalmente dentro de um rio. Eu busquei abrigo
no posto de gasolina e de lá pude ver o heroísmo daquela trajetória
homérica em meio ao dilúvio.
Foi uma coisa inesquecível e cinematográfica. Uma Paixão de Cristo diferente, realmente.
No
Calvário chegam o prefeito Eric Costa, secretária Luzia Barroso,
Edileide Bílio dos cerimoniais e muitos fotógrafos. Também o carro do
SAMU. A chuva arrefece e enfim chegam os personagens e figurantes. Jesus
é crucificado ao lado dos dois bons ladrões. Sem shows pirotécnicos,
pantomimas ou efeitos especiais.
E
nem por isso perdeu o brilho, que podia ser visto nos céus a cada
relâmpago, que iluminava as cruzes, a igreja e o povo, em magníficos
reflexos. Algo realmente espetacular para os privilegiados que tiveram a
sorte de viver esse momento ímpar de nossa história.
Nesta
sexta-feira da Paixão de Cristo, que nos faz lembrar aquele que veio
para nos salvar e recomendou-nos ajudar uns aos outros, lembremo-nos
também de uma família que, em meio à forte tempestade que se abateu
sobre a Barra, teve sua casa invadida pelas águas no sopé do Morro do
Calvário, próximo ao Arco, vindo a desmoronar!

Paixão de Cristo
Temporal pelas ruas da Barra
No Calvário, chuva e crucificação
Blog: Urias Matos