BC deve subir Selic em 1 ponto, a 6,25%, e devolver os juros ao nível de 2019

Até início de 2022, já há banco que acredita que taxa pode chegar aos 9,75%

O Comitê de Política Monetária (Copom), colegiado do Banco Central responsável por gerir os juros do país, anuncia ao fim da tarde desta quarta-feira (22) a nova Selic, a taxa básica de juros do país.

Hoje também é esperada a decisão de política monetária nos Estados Unidos, onde o Fed (Federal Reserve) divulga seus próximos passos às 15h (horário de Brasília).

Quando a divulgação das decisões dos bancos centrais brasileiro e americano cai no mesmo dia, o mercado chama de “super quarta”.

Veja o que esperar:

No Brasil, é bem amplo o consenso entre os analistas de bancos, corretoras e consultorias de que a Selic ganhará um novo aumento de 1 ponto percentual, igual ao da última reunião, em agosto, e conforme o BC já havia sinalizado que faria. É um dos maiores aumentos em anos já feitos pelo Banco Central, que costuma ajustar a Selic em degraus de 0,25 a 0,75.

Com 1 ponto percentual a mais, a Selic deve subir dos atuais 5,25% para 6,25%, voltando a um nível semelhante ao do início de 2019 e ganhando espaço com folga acima dos 4,25% em que provavelmente teria parado, em fevereiro de 2020, caso a pandemia do coronavírus não tivesse alcançado o Brasil e o mundo.

A crise global que se sucedeu fez o BC brasileiro acompanhar o resto do mundo e derrubar a Selic para 2% no ano passado, em um super-estímulo à economia.

“Desde a última reunião do Copom [em agosto], o cenário da Covid melhorou, os números sobre a atividade foram mistos, mas com um viés negativo [com o PIB fraco segundo trimestre], a inflação surpreendeu negativamente (…) e o real perdeu força frente ao dólar”, escreveu o banco Goldman Sachs em relatório aos clientes, reforçando a aposta no aumento de 1 ponto agora e na continuidade da escalada dos juros até o final deste ano…..

 

 

A cotação da moeda norte-americana saiu de R$ 5,15 a R$ 5,20 no início de agosto para os R$ 5,30 atualmente.

Presidente do BC acalma ânimos

Com a piora rápida da inflação – em agosto ela foi a mais alta para o mês em duas décadas e chegou a 9,7% em 12 meses -, alguns economistas até chegaram a acreditar que o aumento da Selic neste mês poderia ser maior, de 1,25 ou 1,5 ponto, ou seja, para até 6,75%.

Mas um alerta do presidente do BC, Roberto Campos Neto, na semana passada, reafirmando que a autoridade monetária “não alteraria seu plano de voo”, jogou um pouco de água fria na fervura dos ânimos do mercado. Isso colocou praticamente todas as projeções de volta nos 6,25% para esta quarta-feira.

“Em parte, a atividade mais fraca (…) pode se tornar um vetor desinflacionário adiante”, disse o economista-chefe da XP, Caio Megale, em relatório.

“O cenário externo também dá espaço para o Copom ser mais cauteloso na implementação do ajuste monetário [aumento de juros]. Os juros seguem bastante baixos no cenário global, e as incertezas na China representam um risco à atividade econômica global e à evolução dos preços das commodities.”

Todas essas pressões negativas, explicam os economistas, colocam um peso sobre a decisão do BC de não subir os juros muito rapidamente, já que juros muito altos já são um elemento que deprimem o crescimento.

Rumo aos 9,75%?

Com o novo aumento desta quarta-feira, a Selic já começa a se reaproximar do ponto que os economistas chamam de “neutro” – aquele em que os juros não estão nem estimulando e nem freando a economia, e que, atualmente, é calculado perto dos 6,5% para o Brasil.

Como a perspetiva é que ela siga subindo nos meses seguintes, o Brasil já deve começar a viver muito em breve – em 27 de outubro, mais precisamente, data do próximo encontro do Copom – com juros acima do neutro.

Quer dizer, a Selic já estará colocando um peso recessivo sobre o Produto Interno Bruto (PIB) e a geração de empregos do país.

Alguns bancos já falam até em uma Selic a 9,75% até o início do ano que vem – caso do Credit Suisse, que divulgou recentemente suas revisões para este e o próximo ano.

“Nós mantemos nossa avaliação de que acelerar [o ajuste] não é o ideal, dado que o ritmo de aperto atual já é alto. Entretanto, acreditamos que a autoridade monetária terá que fazer novos aumentos na taxa de juros à medida que o cenário inflacionário piora”, escreveu o banco.

A XP estima que os juros cheguem aos 8,5% até lá e, a equipe de pesquisa econômica do Itaú, fala em 9%.

“A nosso ver, o Banco Central está correto ao indicar que a taxa de juros deve ser elevada para patamar restritivo”, escreveram os economistas do Itaú em relatório, mencionando que há ainda vários riscos que pairam sobre o horizonte dos juros e os pressionam para continuar subindo.

“O cenário inflacionário continuou se deteriorando e os riscos permanecem elevados. A situação hídrica gera pressão sobre a inflação corrente, via aumento das contas de luz, e também sobre a dinâmica de preços do ano que vem (…). Adicionalmente, as dúvidas sobre a trajetória das contas públicas, em especial no que diz respeito ao cumprimento do teto de gastos em 2022, resultam em pressão mais duradoura sobre a taxa de câmbio”, diz o texto.

E nos EUA?

Nos Estados Unidos, o Fed deve abrir caminho nesta quarta-feira para reduções em suas compras mensais de títulos neste ano e mostrar em projeções econômicas atualizadas se a inflação mais alta do que o esperado ou o ressurgimento da pandemia estão pesando nas perspectivas.

Após o anúncio da decisão, o chair Jerome Powell dará entrevista coletiva às 15h30.

Desde o final julho as autoridades têm lidado com um conjunto conflitante de desdobramentos — sinais de desaceleração no setor de serviços, surto da pandemia e fraco crescimento do emprego em agosto, tudo somado à inflação ainda forte — e há conflito entre elas sobre como reagir.

Em sua maioria, as autoridades têm dito que a recuperação econômica continuará e permitirá que o banco central prossiga com os planos de reduzir seus 120 bilhões de dólares em compras mensais de títulos até o final do ano, encerrando as aquisições totalmente ao longo do primeiro semestre de 2022.

Mas analistas externos e especuladores esperam que o Fed seja cauteloso ao falar sobre quando exatamente a redução pode começar, e que vincule isso a uma recuperação no crescimento do emprego após um relatório surpreendentemente fraco em agosto, com abertura de apenas 235 mil postos de trabalho.

O comunicado provavelmente reconhecerá que a economia deu mais um passo em direção ao “progresso substancial” que o Fed deseja ver no mercado de trabalho antes de reduzir suas compras de títulos, disseram os economistas Aneta Markowska e Thomas Simons, da Jefferies, em uma análise.

Embora os dados de emprego de agosto tenham sido fracos, os EUA criaram 1 milhão de vagas em julho e têm média de abertura de 716 mil postos de trabalho desde maio.

Ainda assim, dados de alta frequência e indicadores alternativos de emprego sugerem que os próximos dados também podem decepcionar, e os analistas da Jefferies disseram que a primeira redução real na compra de títulos provavelmente será “condicionada a um sólido ganho de emprego em setembro”.

O mercado de trabalho dos EUA ainda tem 5,3 milhões de vagas a menos do que seus patamares pré-pandemia.

Quando vier, a redução das compras de títulos marcará o início do que provavelmente será uma lenta mudança das medidas implementadas em março de 2020 para ajudar a economia durante a pandemia, em direção a uma política monetária mais normal, que eventualmente incluirá juros mais altos.

Powell — que deve descobrir antes da próxima reunião do Fed, em novembro, se o presidente Joe Biden deseja mantê-lo por um segundo mandato como chair do banco central — enfatizou em vários discursos importantes, incluindo na conferência do Fed de Jackson Hole, que o eventual início da redução das compras de títulos não tem relação com o debate sobre juros.

É um ponto que ele provavelmente reiterará em sua coletiva de imprensa nesta quarta-feira.

*Com Reuters